Nos últimos meses, quase todos os dias ao chegar ao trabalho, dou de cara com um moço que fica sempre por perto da portaria em que eu entro. Ele fica discursando sobre muitos assuntos para que todos ouçam... ou não! Acho que para ele, isso não vem ao caso. Eu já o vi discursando sozinho e já o vi discursando para uma plateia composta geralmente de fumantes, porque são eles que têm que sair do edifício para dar uma tragadinha.
Acho isso muito engraçado e triste ao mesmo tempo. Engraçado porque trabalho em um lugar em que as pessoas passam metade do tempo debatendo e discursando. Só que essas pessoas estão do lado de dentro da instituição. Se existe alguém louco ou normal nessa história... não sei. Acho que somos todos iguais. Só estamos discursando em locais diferentes. Mas não sei se as pessoas de fato prestam atenção nele. Se bem que é impossível não perceber sua presença, ou melhor, não ouvir sua presença.
Outro dia uma amiga contou que ele estava "recitando" o seguinte: "Mataram eu e minha família e ainda estão por aí!" Era uma denúncia. Feita por quem? Pelo próprio morto.
Esta semana, passei por ele e ele acenou: "Oi, celebridade!". Eu olhei em volta e só tinha eu mesma. Então, muito prazer, celebridade! E eu disse "oi".
A mesma amiga disse que já foi chamada de "social-light" (vou perguntar para ele se é assim que se escreve).
Mas o que penso de tudo isso é que ele foi abençoado com o poder da oratória e da imaginação. Sei que ele, muitas vezes, recebe o rótulo dos "loucos". Mas eu tenho minhas dúvidas... Acho que é difícil mesmo encarar a realidade. E talvez ele seja um sábio, um profeta ou apenas um de nós, que estamos do lado de dentro da instituição.
A parte triste é que percebo que ele deseja fazer parte. E faz parte! Faz parte do nosso dia-a-dia. Mas acho que ele gostaria mesmo é de mudar alguma coisa no mundo com suas palavras. Ou será que sou eu quem está imaginando demais?
De qualquer forma, agora sou celebridade!!!